Desde os primeiros séculos, o dia de culto cristão tem sido tema de reflexão, prática e também de controvérsia. Para compreender o debate entre sábado e domingo, é necessário olhar para a história do cristianismo, suas raízes judaicas e o desenvolvimento da fé cristã ao longo do tempo.
As origens: o sábado no judaísmo
O sábado (do hebraico Shabat) sempre foi o dia sagrado do povo judeu, estabelecido nos Dez Mandamentos como dia de descanso e adoração a Deus. Jesus e seus primeiros discípulos eram judeus e, portanto, guardavam o sábado. Os evangelhos mostram Jesus frequentando a sinagoga nesse dia, o que confirma que o sábado fazia parte da prática religiosa inicial dos seguidores de Cristo.
A ressurreição e o primeiro dia da semana
A grande mudança começa a partir de um acontecimento central da fé cristã: a ressurreição de Jesus. Segundo os evangelhos, ela ocorreu no primeiro dia da semana, o domingo. Esse fato passou a ter profundo significado teológico para os cristãos, pois simbolizava uma nova criação, uma nova aliança e a vitória da vida sobre a morte.
Já no Novo Testamento há indícios de reuniões cristãs no domingo. O livro de Atos menciona discípulos reunidos no primeiro dia da semana para partir o pão, e o apóstolo Paulo faz referência a esse dia como momento de organização da comunidade. Com o passar do tempo, o domingo passou a ser chamado de Dia do Senhor.
O desenvolvimento histórico da prática dominical
Nos séculos II e III, há registros claros de que muitas comunidades cristãs já se reuniam regularmente no domingo para culto, leitura das Escrituras e celebração da ceia. Essa prática se consolidou ainda mais no século IV, quando o imperador Constantino decretou o domingo como dia oficial de descanso no Império Romano. Embora o decreto tivesse também motivações sociais e políticas, ele contribuiu decisivamente para a institucionalização do culto dominical.
A partir desse período, o domingo tornou-se o principal dia de culto da maioria das igrejas cristãs, especialmente no cristianismo ocidental.
A controvérsia: sábado ou domingo?
A discussão permanece viva até hoje. Grupos cristãos que defendem a guarda do sábado argumentam que o mandamento bíblico nunca foi revogado explicitamente e que Jesus não ordenou a mudança do dia de descanso. Para esses grupos, o sábado continua sendo o dia correto de culto e obediência a Deus.
Por outro lado, a maioria das tradições cristãs entende que o domingo não substitui o sábado como simples troca de dias, mas representa uma nova compreensão espiritual. O culto dominical estaria ligado à ressurreição de Cristo e à liberdade cristã, na qual o foco não está em um dia específico, mas na pessoa de Jesus.
Qual o dia correto de culto?
Historicamente, pode-se afirmar que os cristãos começaram a se reunir no domingo desde o primeiro século, de forma gradual e progressiva. Biblicamente e teologicamente, a resposta varia conforme a tradição cristã.
Para alguns, o sábado permanece como mandamento eterno. Para outros, o domingo é a celebração da nova vida em Cristo. E há ainda quem entenda que todo dia é apropriado para adoração, desde que Deus seja honrado com fé e sinceridade.
Mais do que definir um dia específico, o debate entre sábado e domingo revela diferentes formas de interpretar a Bíblia, a tradição e a história da Igreja. Independentemente do dia escolhido, o centro da fé cristã continua sendo a adoração a Deus, a vivência do amor ao próximo e o compromisso com os ensinamentos de Jesus Cristo.