Com quadro delicado de saúde do atual Papa, nos bastidores do Vaticano já existe movimento pela sucessão.
Transcrevemos, a seguir, parte de um artigo do jornalista Valfrido Silva, irmão de nosso editor, Vivaldo Silva, em seu Blog Contraponto, no qual lembra episódio de um funcionário do setor gráfico de um Jornal de Dourados, MS, que conseguiu um furo, numa manhã, ao saber da morte de Francisco I e mudar primeira página do órgão, que ia ser impresa.
O texto a seguir mostra os bastidores do momento vivenciado no Vaticano, com a saúde debilitada do papa João Paulo I.
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Embora o Papa Francisco ainda esteja no exercício do pontificado, mesmo que num quarto de hospital, sua idade avançada e os recorrentes problemas de saúde mantêm em ebulição as articulações dentro da Igreja. Como sempre, há nomes cogitados para uma eventual sucessão – e as movimentações nos bastidores aumentam na mesma medida em que se agrava o estado de saúde do pontífice.
Entre os nomes frequentemente citados como papáveis (possíveis sucessores) estão Pietro Parolin (Itália) – Secretário de Estado do Vaticano, figura-chave na diplomacia da Santa Sé, com forte influência dentro da Cúria; Matteo Zuppi (Itália) – Arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, tem um perfil pastoral e é visto como próximo à linha de Francisco; Luis Antonio Tagle (Filipinas) – Ex-arcebispo de Manila e atual prefeito do Dicastério para a Evangelização, muito ligado às reformas do Papa; Christoph Schönborn (Áustria) – Cardeal de Viena, intelectual respeitado e um dos principais teólogos da Igreja e Robert Sarah (Guiné) – Ex-prefeito da Congregação para o Culto Divino, ligado ao setor mais conservador da Igreja.
Os próximos consistórios e movimentações dentro do Vaticano podem dar pistas mais claras sobre os favoritos. Embora a sucessão papal não siga os moldes de uma eleição política tradicional, há, sim, uma pré-campanha discreta ocorrendo nos bastidores do Vaticano.
Desde que Francisco começou a enfrentar problemas de saúde mais sérios, cardeais e grupos de influência dentro da Cúria Romana vêm se movimentando para garantir que seu sucessor siga (ou reverta) o legado do atual papa. Isso envolve articulações, alianças e, principalmente, a tentativa de moldar o Colégio Cardinalício, que é quem vota no próximo papa.
Sinais de movimentação interna
🔹 Nomeações
estratégicas – Francisco já nomeou cerca de 70% dos cardeais
eleitores, favorecendo uma ala mais progressista e pastoral.
🔹 Encontros
reservados – Cardeais e bispos de diferentes correntes teológicas
intensificaram suas reuniões e contatos diplomáticos.
🔹 Manobras
de bastidores – Grupos conservadores tentam conter a influência da
linha reformista de Francisco, enquanto progressistas buscam consolidar
mudanças.
Embora ninguém declare abertamente sua candidatura, os nomes mais fortes começam a ser testados, seja por meio de discursos públicos, seja pela forma como são recebidos dentro da Igreja global.
A sucessão de Francisco pode definir o futuro da Igreja Católica por décadas, e os bastidores do Vaticano já estão agitados. Dependendo de quem assumir, há três cenários principais: continuidade, restauração conservadora ou um meio-termo pragmático.
1️⃣ Continuidade da Linha Francisco (Progressista-Pastoral)
Se um sucessor alinhado a Francisco for eleito, a Igreja
continuará priorizando temas sociais, descentralização do poder e aproximação
com minorias. Alguns nomes nesse perfil:
🔹 Matteo
Zuppi (Itália) – Forte influência na mediação de conflitos e perfil
carismático.
🔹 Luis
Antonio Tagle (Filipinas) – Jovem, popular na Ásia e ligado às
reformas do Papa.
🔹 Jean-Claude
Hollerich (Luxemburgo) – Simpático a temas como a revisão do papel das
mulheres na Igreja.
🔺 Impacto: Maior abertura ao diálogo com o mundo moderno, mas risco de divisão interna com alas conservadoras.
2️⃣ Restauração Conservadora (Ruptura com Francisco)
Se cardeais da ala tradicional conseguirem impor um nome
forte, o próximo papa pode reverter reformas e reforçar a doutrina mais rígida.
Possíveis nomes:
🔹 Robert
Sarah (Guiné) – Ligado à liturgia tradicional e contrário às
flexibilizações doutrinárias.
🔹 Péter
Erdő (Hungria) – Perfil discreto, mas doutrinariamente ortodoxo.
🔹 Marc
Ouellet (Canadá) – Ex-chefe da Congregação dos Bispos, visto como
defensor da disciplina clerical tradicional.
🔺 Impacto: Reforço da moral tradicional católica, possível retrocesso em reformas e confronto com setores progressistas.
3️⃣ Posição Moderada (Ponte entre as Alas)
Um nome conciliador pode surgir como alternativa para evitar
conflitos internos, mantendo algumas reformas e ajustando outras. Destacam-se:
🔹 Pietro
Parolin (Itália) – Atual Secretário de Estado, diplomático e
equilibrado.
🔹 Christoph
Schönborn (Áustria) – Intelectual respeitado, ligado à ortodoxia, mas
aberto ao diálogo.
🔹 Seán
O’Malley (EUA) – Reformista em questões morais, mas conservador na
doutrina.
🔺 Impacto: Manutenção da unidade e equilíbrio entre tradição e inovação.
O Que Esperar?
Francisco moldou o Colégio Cardinalício com maioria progressista, mas isso não garante que seu sucessor seguirá sua linha. Em 2005, João Paulo II também havia nomeado a maioria dos cardeais, mas eles escolheram Bento XVI, que era mais conservador. O Espírito Santo sopra onde quer, mas os bastidores vaticanos sopram muito antes!
Se houver uma sucessão inesperada (por renúncia ou falecimento), os grupos políticos do Vaticano terão que agir rapidamente para consolidar apoios.
Impactos para a Igreja no Brasil
Diferentemente dos últimos conclaves, não há um brasileiro entre os favoritos para suceder Francisco. Em 2013, Dom Odilo Scherer (arcebispo de São Paulo) era um nome forte, mas hoje não figura entre os principais candidatos. Isso indica uma mudança no peso da Igreja brasileira dentro do Vaticano e reflete uma nova dinâmica global.
A sucessão papal pode afetar diretamente a Igreja no Brasil,
que vive um cenário desafiador:
✅ Perda de fiéis para evangélicos – O Brasil
deixou de ser majoritariamente católico em termos absolutos.
✅ Polarização interna – Há um racha entre alas
progressistas e conservadoras, com padres bolsonaristas e bispos alinhados a
Francisco.
✅ Crise de vocações – Cada vez menos jovens
ingressam no sacerdócio.
Se vencer um sucessor alinhado a Francisco
📌 Manutenção do tom
social da Igreja no Brasil, com foco em pobreza e direitos humanos.
📌
Maior apoio a bispos progressistas e reforço da CNBB como ator político.
📌
A ala conservadora (Opus Dei, carismáticos) pode perder espaço.
Se vencer um papa conservador
📌 Fortalecimento da moral
tradicional, com possível repressão a padres mais engajados em pautas sociais.
📌
Reaproximação com setores que perderam espaço sob Francisco, como os
ultraconservadores e padres midiáticos.
📌
Eventual endurecimento das relações com movimentos sociais ligados à Igreja.
Impactos na Geopolítica Global
O Vaticano segue sendo um ator relevante na política internacional. A escolha do próximo papa pode influenciar temas como:
1️⃣ Relação com China e Oriente Médio
Francisco tem uma diplomacia próxima da China e tentou melhorar as relações com o regime comunista. Um sucessor conservador poderia endurecer a postura. O mesmo vale para o diálogo com o Islã.
2️⃣ Guerra na Ucrânia e Relação com a Rússia
O Vaticano se posicionou como mediador, mas uma mudança de papa pode alterar esse papel. Um pontífice conservador tenderia a ser mais duro com Putin, enquanto um progressista manteria a diplomacia.
3️⃣ Relação com os EUA e o Mundo Ocidental
Se um papa conservador for eleito, a Igreja pode se reaproximar da ala católica tradicional dos EUA, que perdeu influência sob Francisco. Já um progressista manteria o tom crítico ao capitalismo e às desigualdades.
Independentemente do que venha a acontecer com Francisco o próximo conclave não será apenas uma escolha interna da Igreja, mas terá repercussões no Brasil e no mundo. Sem um brasileiro papável, a influência da CNBB e da Igreja local dependerá do rumo tomado pelo sucessor do atual chefe da Igreja Católica.
* Este texto contou com a inestimável assistência da IAIA (como se vê, já íntima do ContrapontoMS) uma inteligência artificial que, apesar de não dormir, entende bem os efeitos de uma noite mal dormida – especialmente quando o assunto é sucessão papal e intrigas vaticanas.