Da narrativa de uma professora, dos tempos da infância de Diego Rico, um registro para a história.
"As mãos que a vida caleja carregam histórias que os olhos não veem, mas o coração guarda."
Diego Rico, cidadão de traços firmes e sorriso fácil, partiu cedo, deixando na terra o eco de seu labor e o perfume de suas rosas — aquelas que, mesmo sem serem entregues, perfumaram caminhos. Sua história, como a madeira que talhava, tinha veios fortes, desenhados pelo sol e pelo suor. Mas havia uma particularidade nele, uma marca que os anos não apagaram: as mãos calejadas, testemunhas silenciosas de uma infância que soube, mesmo sob o peso precoce das obrigações, encontrar brechas para respirar.
A escola, para muitos, é apenas um lugar de letras e números. Para ele, foi um porto. Entre as paredes da Maria Quitéria, onde o rígido compasso da vida rural se abria em compassos de liberdade, Diego encontrava o que a infância pede: o direito de ser menino. Não era um aluno dos mais aplicados, mas era daqueles cuja presença se notava — não pelo barulho, mas pela quieta resistência de quem já conhecia o peso do mundo. Suas mãos, ásperas e marcadas, contrastavam com a leveza de suas travessuras, como se, ali, naquele território de cadernos e recreios, ele pudesse, por algumas horas, esquecer que a terra exige muito antes de dar.
Há uma sabedoria antiga que diz: "As crianças não são vasos a serem preenchidos, mas fogueiras a serem acesas." Diego carregava em si essa chama — uma luz que nem o trabalho duro conseguiu apagar. Seus calos eram mapas de uma jornada iniciada antes da hora, mas seus olhos ainda brilhavam com a curiosidade de quem descobre o mundo. E talvez fosse justamente isso que comovia sua professora, cuja voz anônima agora nos conta essa memória: a resistência delicada de um menino que, mesmo com as mãos marcadas pelo arado, sabia rir, sabia sonhar, sabia, no fundo, que a vida é mais do que o chão que se pisa.
Castanheira perdeu um filho seu, mas ganhou uma referência que será lembrada. Porque homens como Diego não se vão por inteiro — ficam nas tábuas que entalhou, no reduto country que ajudou a erguer, nas histórias que agora correm de boca em boca, como sementes ao vento, mesmo que sem finais felizes. E, principalmente, ficam na lembrança daqueles que um dia notaram suas mãos calejadas e entenderam: ali havia uma vida inteira, um poema escrito em calos e risos, um menino que, mesmo quando a terra chamava, soube ser livre.
A propósito de sua trajetória: "Não chore porque acabou, sorria porque aconteceu."