Trabalhar, para Arnildo, era mais que obrigação: era identidade.
Castanheira amanheceu mais silenciosa. Há silêncios que não vêm da ausência de sons, mas da falta de alguém que fazia barulho com a vida — com o riso fácil, com o jeito simples, com o trabalho constante. A morte inesperada de Arnildo Vieira da Silva, aos 44 anos, morador do Sítio 2 Irmãos, na Linha São Paulo, no 3º Assentamento, deixou esse tipo de silêncio: o da saudade que pesa.
Arnildo partiu cedo. E quando alguém assim se vai, o tempo parece injusto. Ficam as lembranças de um homem conhecido pelo bom humor, pela disposição em ajudar e por uma marca que todos repetem quase como consenso: era trabalhador, acima de tudo.
Na Casa da Saudade, onde amigos e familiares se despeden na tarde desta terça-feira, dia 30, cada conversa tem sido uma tentativa de manter Arnildo presente. O Castanheira News ouviu relatos que se cruzam num mesmo ponto: ele não media esforços quando o assunto era compromisso. O pastor Cledson Carlos de Souza, da Igreja Presbiteriana do Brasil, amigo de muitos anos, resumiu com serenidade: “Arnildo viveu de forma simples, mas firme. Sua vida falava mais alto do que qualquer discurso.”
A Escritura diz que “o homem é semelhante a um sopro; seus dias são como a sombra que passa” (Salmos 144.4). Ainda assim, quando esse sopro se interrompe de maneira repentina, a dor surpreende. O pai, Osmar Vieira, guarda na memória uma cena que hoje parece carregar um peso diferente. Voltando de Cuiabá, por volta das 3h30 da madrugada, cruzou com uma ambulância na estrada. Um pensamento breve lhe veio ao coração: “Quem será?” Horas depois, descobriu que era o próprio filho, levado ao Pronto Atendimento de Castanheira após um mal súbito.
Arnildo ainda lutou. Foram dias difíceis: UTI em Juína, transferência aérea para Tangará da Serra, equipes médicas empenhadas. Mas as sequelas de uma pneumonia, agravadas por complicações respiratórias decorrentes da Covid-19 — que havia comprometido severamente seus pulmões — foram mais fortes. Mesmo assim, até então, levava uma vida considerada normal, sempre ativa, sempre dedicada ao trabalho.
E trabalhar, para Arnildo, era mais que obrigação: era identidade. Construía casas, barracões, cercas, coxos. Era o tipo de pessoa que resolvia problemas com as mãos e com a disposição. Ainda assim, sabia parar. Gostava de reunir amigos e familiares, especialmente aos sábados, para uma carne assada simples, dessas que hoje ganham outro sabor quando lembradas — o sabor da ausência.
Sua ligação com Castanheira começou cedo. Chegou à região aos três anos de idade, quando os pais deixaram Rondonópolis em busca de um novo começo. Tornaram-se pioneiros. Foi aqui que Arnildo cresceu, construiu sua história e formou sua família ao lado de Ediane Nogueira de Oliveira. Da união nasceram Maria Carolina, hoje com 22 anos, e Vitor Emanuel, de apenas 4.
Maria Carolina define o pai com palavras que carregam verdade: “Ele era trabalhador, mas também era meu amigo. Um homem honesto, de família.” Vitor, pequeno demais para compreender a despedida, expressou seu amor de outra forma. No último Natal, escreveu uma cartinha esperando o retorno do pai. Um retorno que não aconteceu — e que agora se transforma em saudade precoce.
O genro, Welinton Paulino Farias, lembra do homem presente, preocupado com os seus. O irmão, Arlindo Vieira da Silva, e a nora Eliane, do Sítio Recanto, no Vale do Seringal, reforçam a imagem de alguém que “lutava pela vida”, que colocava os compromissos antes da diversão, e que não fugia das responsabilidades.
Arnildo deixa os pais, a esposa, os filhos, uma neta, familiares e muitos amigos. Mas deixa também algo que não se enterra: a memória de uma vida simples, trabalhadora e verdadeira. Como escreveu o apóstolo Paulo, “combati o bom combate, completei a carreira” (2Tm 4.7). Para muitos em Castanheira, Arnildo fez exatamente isso — e agora descansa, enquanto a saudade continua seu trabalho entre os que ficaram.