Morre Reverendo Matatias Pereira Alves

Rev. Matatias entre os amigos André e Balbino

"Meu amigo de cinco décadas foi promovido às moradas eternas. Nos precede nessa partida. Fecha os olhos para ver melhor." Com essas palavras, o Rev. Antônio Balbino Martins, ex-capelão do Hospital Mackenzie em Dourados (MS), referiu-se à morte do amigo Rev. Matatias Pereira Alves, ocorrida na noite de domingo, por volta das 22h30 (horário de Brasília), em Piracicaba (SP).

Matatias viveu sob o respaldo das palavras que Martin Luther King certa vez proclamou: “Não quero uma vida longa. Só quero fazer a vontade de Deus.” E, embora não as tivesse dito, cumpriu-as com singular devoção. Viveu 80 anos, grande parte dedicados ao pastoreio de igrejas como as IPB's Central de Dourados e Filadelfia (MS), Itanhaém e Santa Bárbara d’Oeste (SP).

Definido por Ester Duarte Gomes, mulher ativa na IPB e em peregrinações pelo mundo, como “um intelectual” — com notável conhecimento histórico —, Matatias também deixou marcas na docência. Foi diretor de escolas estaduais, da Escola Mackenzie em São Paulo e docente da Unigran em Dourados, onde lecionou no curso de Direito.

Pertencente a uma geração que primava por uma liturgia rebuscada nos cultos, era apaixonado pela teologia sistemática. Profundo conhecedor do pensamento de Karl Barth e Berkhof, referências nesse campo, dirigiu o Instituto Bíblico Philip Lands na Missão Caiuás, em Dourados e influenciou na formação de muitos pastores, entre eles o Rev. Marcos Alves, hoje servindo a IPI no interior de São Paulo. 

Era mestre em surpreender seus ouvintes com lições de vida ilustradas em gestos inesperados, sempre cheios de significado. Conta-se, por exemplo, que certa vez entrou de bermuda em uma igreja tradicional, propositalmente atrasado, para dar uma pastoral sobre reverência — um alerta aos fiéis que relaxavam no vestir e nos horários. Em outra ocasião, realizou um culto relâmpago, com poucos minutos de duração, deixando o templo em silêncio para impactar as “ovelhas desleixadas”.

Há também a história — quase lendária — do dia em que colocou um caixão no templo antes do culto. Ao se aproximarem, curiosos para ver “quem era o morto”, os fiéis deparavam-se com um espelho: seu próprio reflexo. Era um convite à reflexão sobre a vida espiritual: “Estás vivo ou morto?”

Esse era Matatias, o “Mata” para os mais íntimos, um homem que deixou saudades em múltiplos fronts, como os vibrantes retiros espirituais que atraíam centenas de jovens. Muitos deles tomavam a decisão pela fé em Cristo — experiência que ele, com rigor teológico, lembrava ser “uma ação divina, movendo o homem ao arrependimento, em resposta à graça eficaz”. “Conheci-o na infância, pregando nos retiros de Carnaval. Inesquecível”, recorda Sônia Matos Fialho nas redes sociais.

Entre os pastoreados por ele, muitos testemunham “o cuidado e carinho”. Darci Pedroso (Dourados-MS), Eli Pedroso (Cuiabá-MT) e João Batista Andrade Filho (Campo Grande MS), funcionário aposentado da Caixa Econômica Federal, são alguns que compartilham essa gratidão. “Foi meu primeiro pastor”, diz João, solidário à dor dos que o cercavam.

A grandeza de Matatias não cabe em palavras. Homem de convicções, costumava afirmar: “Estou pronto para encontrar meu Criador”. E, como escreveu Bertolt Brecht em "Elogio da Dúvida" (da peça "A Vida de Galileu"):“Os homens que lutam a vida toda são imprescindíveis", foi imprescindível para todos que fizeram parte de sua história. Deixa um filho, Carlos Eduardo Araújo Alves, membro da IPB Central de Dourados (MS), que ele pastoreou por 7 anos,  e netos. E inesquecíveis recordações!

Vivaldo S. Melo - Pastoreado por Matatias, que foi também seu tutor nos tempos de Faculdade Teológica em Recife e Campinas (SPN e SPS) e oficiante no casamento com a professora Rosenir Monteiro Melo em Guia Lopes da Laguna (MS).