Machado ou Machadinho como era conhecido no círculo mais íntimo, deixa um legado de bom exemplo e dedicação ao que fazia.
Na Casa da Saudade, lugar onde as palavras quase sempre faltam e os silêncios dizem mais que discursos inteiros, Castanheira se despede, neste sábado, 27, de Wilson Dantas Machado. Para muitos, Machado; para os mais próximos, Machadinho. E entre lágrimas contidas, abraços demorados e memórias que insistem em permanecer, uma frase se repete por lá como um consenso silencioso: cumpriu a missão.
Mas que missão foi essa? O filho Rafael Batista Machado responde por todos, com a serenidade de quem herdou o melhor do pai. Diz que ele era alegria em forma de gente, boa prosa em qualquer esquina da vida. Lembra de uma de suas máximas, dessas que ficam ecoando mesmo depois da despedida: “Para ele, estando ruim estava bom; e estando bom, estava excelente”. Eduardo, amigo de caminhada e de histórias, resume em poucas palavras o que muitos sentem: Machado tinha como marca servir e ajudar o próximo. Era assim, simples e inteiro.
Homem de família, dos afetos bem cuidados, tinha nos encontros de fim de ano um de seus rituais mais sagrados. O Natal e o Ano Novo eram mais que datas; eram celebrações da vida compartilhada. E foi justamente neste Natal que, como sempre, esteve entre os mais alegres da reunião familiar. Hoje, essa lembrança dói e conforta ao mesmo tempo, como se a vida tivesse escolhido que sua despedida fosse exatamente do jeito que ele gostava: cercado de gente, risos e amor. Por volta das 3h30 da madrugada, sentindo que algo não ia bem, chamou a esposa. No caminho entre a casa, no bairro Noga, e o Pronto Atendimento, um infarto fulminante interrompeu a caminhada de seus 66 anos, mas não o sentido dela.
Paranaense de Nova Londrina, chegou à região de Castanheira em 1980, via Fontanilas, quando tudo era começo e o município mal passava de um punhado de casas. Foi pioneiro. Foi estrada. Foi volante nas mãos e coragem no peito. Trabalhou como motorista nos primeiros cenários da nova terra, passou pela Madeireira Rezzieri, pelo transporte de pessoas na lendária TUT e, mais recentemente, pelo Laticínios Casterleite. Onde passou, deixou trabalho feito e respeito construído.
Na fé, encontrou mais um caminho de serviço. Foi parceiro ativo no trabalho missionário da esposa, Cléodina Aparecida Batista Machado, Paróquia Santo Antônio. Na família, encontrou seu maior tesouro. Pai de Gabriel, Rafael, Douglas e Gisele, educou os filhos nos valores que acreditava e vivia. Três deles residem hoje em Campo Novo do Parecis e um em Guarantã do Norte, mas todos carregam o mesmo ensinamento. “Seu maior legado era ser um pai excelente, um amigo exemplar e um dedicado conselheiro”, resume Rafael, com a voz embargada e o coração cheio. Machado deixa ainda três netos de sangue e dois por afinidade — extensões naturais de um amor que não se limita.
Saudade é uma palavra curta demais para tudo isso. É ausência que dói, mas também presença que permanece. É lembrança que aperta o peito e, ao mesmo tempo, aquece. O sepultamento está previsto para este sábado, no Cemitério Bom Jesus, em horário a ser definido, aguardando a chegada da filha Gisele, que se desloca de Goiânia para Castanheira.
Entre tantas despedidas que a Casa da Saudade já viu, esta deixa uma certeza serena: há vidas que, mesmo interrompidas, seguem completas. Porque viver, como Machado viveu, é isso — cumprir a missão e deixar amor suficiente para que a saudade nunca caminhe sozinha.