Judas e a Tragédia de um Coração que Viu, mas Não Foi Transformado: Uma Reflexão para a Sexta-Feira Santa

A série The Chosen tem conquistado milhões, e uma de suas cenas mais impactantes é a justificativa de Judas para trair Jesus: "Porque eu não vi o suficiente". Essa interpretação dramática, ainda que não explícita na Bíblia, levanta questões profundas sobre fé, arrependimento e a natureza da apostasia. Mas o que as Escrituras realmente dizem sobre Judas? E o que a teologia reformada nos ensina sobre o perigo de "ver muito" e ainda assim não crer de verdade?

O Que a Bíblia Diz Sobre Judas?

A Escritura é clara: Judas foi um "filho da perdição" (João 17:12), predestinado ao seu ato terrível (Salmo 41:9; Atos 1:16), mas ainda assim responsável por sua escolha. Ele testemunhou milagres, ouviu ensinamentos diretos de Cristo e até operou no ministério (Mateus 10:1-4). No entanto, seu coração permaneceu endurecido.

A fala de Judas em The Chosen — "Porque vi muita coisa, mas não vi o suficiente" — é uma interpretação humana de sua motivação, mas a Bíblia aponta para algo mais sombrio: a ganância (João 12:6) e a influência satânica (Lucas 22:3). Ele não traiu por decepção, mas porque seu coração nunca foi verdadeiramente de Cristo (1 João 2:19).

A Teologia Reformada e a Apostasia de Judas: Um Alerta Solene

A Confissão de Westminster (X.4) afirma que aqueles que "caem em pecado grave" e persistem "nunca foram verdadeiramente de Cristo". Judas é o exemplo máximo disso: ele estava próximo da luz, mas amou mais as trevas (João 3:19).

A lição? Não basta "ver muita coisa" — é preciso ser transformado pela graça. Como diz Jonathan Edwards: "Há uma diferença infinita entre um conhecimento intelectual de Deus e um coração que O ama." Judas teve o primeiro; faltou-lhe o segundo.

O Perigo das "Ilações" Modernas: Entretenimento x Fé Verdadeira

Vivemos em uma era onde "coisas absurdas são difundidas para atrair público", e The Chosen, ainda que bem-intencionada, não é a Palavra de Deus. Suas dramatizações (como a justificativa melancólica de Judas) podem emocionar, mas não substituem a verdade revelada.

A teologia reformada nos lembra: a fé não vem de representações artísticas, mas da pregação fiel da Escritura (Romanos 10:17). Se algo extra-bíblico nos move mais que a Bíblia, nosso coração está em perigo.

Lições para a Sexta-Feira Santa: O que Judas Nos Ensina Hoje?

1. A hipocrisia é mortal: Judas parecia um discípulo, mas seu coração era do inimigo. Quantos hoje estão na igreja, mas não em Cristo?
2. A graça não é universalista: Jesus orou pelos seus (João 17:9), mas Judas foi "perdido". Isso nos lembra da eleição soberana e da necessidade do arrependimento genuíno.
3. O remorso não é arrependimento: Judas se enforcou (Mateus 27:5), mas Pedro, que também negou Jesus, chorou e foi restaurado. A diferença? Um voltou-se para si; o outro, para a misericórdia de Cristo.

 Judas viu milagres, andou com Jesus e ainda assim O traiu. Sua história é um aviso: conhecimento não salva, só Cristo salva. Nesta Sexta-Feira Santa, que nosso coração não repita seu erro — que não apenas "vejamos" Jesus, mas O amemos, O obedeçamos e O confessemos como o Messias que, mesmo traído, morreu para salvar os Seus.

"Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?" (Hebreus 2:3).

Soli Deo Gloria.