"A educação não é preparação para a vida; a educação é a própria vida." — John Dewey
Na década de 90, no coração verde do Vale do Seringal, em Castanheira, as primeiras escolinhas surgiam como faróis de esperança em meio à mata fechada. Eram feitas de sonhos, suor e madeira rústica — algumas com cobertas improvisadas, chão batido e bancos de toras toscas. Não havia luxo, mas havia amor. E era isso que bastava.
A foto que resgata essa memória pode não ter a precisão de um documento histórico, mas carrega a essência de uma época em que tudo era conquistado a pulso. Professoras como Maria Odete e Francisca Estefane atravessavam picadas, até em lugares em que a merenda era carregada na cabeça e livros debaixo do braço, no meio do nada, até se chegar a uma ou outra pequena construção que seria um templo de ensinamentos. "Chegava a ser engraçado", dizem, mas era, acima de tudo, heroico.
Os materiais chegavam quando podiam — muitas vezes ficavam atolados na lama das estradas alagadas. A madeira ficava abandonada no caminho, esperando o sol secar a terra, mas a sede de aprender nunca esperava. Enquanto não vinham as estruturas sólidas, improvisava-se. Enquanto faltavam cadeiras, sentava-se em "torinhas de madeira". Enquanto o mundo lá fora avançava, ali, no seringal, a educação brotava resistente, como um pé de seringueira.
Essas escolinhas não eram apenas construções. Eram símbolos de luta, onde crianças descobriam que as letras podiam ser tão libertadoras quanto o corte do facão abrindo veredas. Onde professores, com poucos recursos e muita garra, provavam que a verdadeira sala de aula não tem paredes — tem coração.
Hoje, olhar para a foto desse texto é mais que recordar. É honrar os passos dos que vieram antes, os que carregaram a educação nas costas e plantaram, no meio da floresta, as sementes do futuro. Porque, no fim, a história dessas escolinhas não é feita de madeira ou sapé — é feita de gente que acreditou que valia a pena começar.
"Nada é pequeno se o amor é grande."
(Inspirado nos relatos do Castanheira News e na resistência dos pioneiros da educação no Vale do Seringal.)