Mais do que uma emoção passageira, o ciúme excessivo pode trazer consequências trágicas.
"Do Ciúme ao Feminicídio: Os Rastros de uma Distorção Afetiva"
Numa semana em que alunos da Escola Municipal Castanheira tiveram palestra especial sobre "a violência contra a mulher", a morte trágica da influenciadora Beatriz dos Anjos Miranda, de 24 anos, reacende a urgência de discutir o ciúme como gatilho para o feminicídio e suas consequências devastadoras nas relações humanas.
Mais do que uma emoção passageira, o ciúme excessivo pode se transformar em possessividade, violência e até em feminicídio, como demonstram inúmeros casos no Brasil e no mundo.
Segundo a psicóloga e especialista em relacionamentos Helen Fisher, o ciúme descontrolado está ligado a uma distorção cognitiva em que o indivíduo confunde amor com posse, interpretando qualquer autonomia do outro como uma ameaça. Isso gera comportamentos abusivos, como controle, perseguição e agressão.
O filósofo francês Alain de Botton argumenta que o ciúme, em sua forma doentia, é menos sobre amor e mais sobre insegurança e narcisismo ferido. Quando alguém não tolera a ideia de perder o parceiro, muitas vezes projeta sua própria fragilidade em atos de dominação. Exemplos disso incluem desde a vigilância digital (como checar mensagens e redes sociais sem consentimento) até crimes passionais, como o de Beatriz.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que 1 em cada 4 feminicídios no Brasil é cometido por parceiros ou ex-parceiros, frequentemente motivados por ciúme e incapacidade de lidar com o fim do relacionamento.
Portanto, é urgente discutir o ciúme não como um "sinal de amor", mas como um potencial vetor de violência. Educação emocional, redes de apoio e políticas públicas eficazes são essenciais para desconstruir a ideia de que posse e amor são equivalentes — uma lição que, se ignorada, continuará custando vidas.
O caso de Beatriz
Beatriz, que tem mais de um milhão de seguidores em redes sociais, especialmente no Kwai, em vídeos que mostravam um pouco de seu cotidiano e outros de humor, foi morta pelo ex namorado, que depois de enforcá-la com o cinto de segurança do veículo onde estavam, colocou fogo no carro, neste sábado, 29, em Maracanaú, no Ceará.
(Citações referenciadas: Helen Fisher, antropóloga e psicóloga; Alain de Botton, filósofo; dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023.)